O grito de ordem – que em português pode ser traduzido como “nem perdão, nem esquecimento” – é ecoado há décadas por aqueles que buscam justiça contra torturadores, assassinos, mandantes e cúmplices da ditadura militar no Chile. Há exatos 50 anos, no dia 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas, lideradas pelo general Augusto Pinochet, deram um golpe de Estado, que encerrou o governo socialista e democrático de Salvador Allende.
Milhares de brasileiros se refugiaram no Chile durante o período de ditadura militar no Brasil, nos anos 1960 e principalmente, no início dos anos 1970. Por algum tempo desfrutaram de paz, liberdade e puderam tocar suas vidas e seus sonhos. Após o golpe militar fascista de Pinochet, passaram a ser considerados indesejados, perseguidos, presos, expulsos do país e até mesmo assassinados pela ditadura.
A família Capiberibe foi uma das famílias brasileiras, perseguidas por suas posições políticas no Brasil, que emigraram para o Chile. O país andino era então a democracia mais sólida da América do Sul. Capi foi acolhido e recebeu todo o apoio humanitário pelo governo chileno. Em seguido passou a morar em um assentamento da reforma agrária e começou a estudar agronomia na Universidade de Talca, onde teve acesso a técnicas do campo incluindodo o plantio e cultivo de uvas.
Com o golpe de Pinochet em 1973, as famílias de refugiados políticos passam a ser perseguidas pelo novo regime. Os Capiberibe se refugiam então em um abrigo da igreja católica e de lá transportados para um local de apoio da Cruz Vermelha até receberam asilo político no Canadá.
Passados 50 anos do Golpe, o Chile tenta cicatrizar suas feridas. Em 2021, Gabriel Boric, do partido de esquerda Convergência Social, venceu as eleições presidenciais e iniciou o mandato em 2022. Para os defensores de um país mais progressista e comprometido com a igualdade social, a eleição representou um momento de esperança. Para alguns analistas, Boric se tornou símbolo de um modelo de renovação para as forças de esquerda.
Alguns dos ex-exilados, entre eles a família Capiberibe, estiveram no país para participar de eventos sobre os 50 anos do golpe dado por Augusto Pinochet, e, entre outras atividades, visitar ex-centros clandestinos de tortura em Santiago. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi representado pelo ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida e pelo ministro da Justiça, Flávio Dino.
No manifesto “Viva Chile” divulgado este mês por ex-exilados brasileiros no Chile, os assinantes afirmam que “depois do golpe militar fascista de Pinochet passamos a ser considerados indesejados, perseguidos, presos expulsos do país e até mesmo assassinados”. Os nomes dos seis brasileiros mortos nos porões da ditadura chilena estarão numa placa que será inaugurada dentro da embaixada do Brasil em Santiago, e também numa segunda placa colocada na Praça Brasil. As vítimas foram Tulio Quintiliano Cardoso, Wanio José de Mattos, Jane Vanini, Nelson de Souza Kohl, Luiz Carlos de Almeida, Nilton Rosa da Silva.
“O governo brasileiro faz um reparo histórico nesse momento pois condena e reconhce que o regime militar do Brasil apoiou o regime de Pinochet, tanto que o embaixador Câmara havia sido homeageado até com nome de avenida aqui em Santiago” declarou Camilo Capiberibe. “Nesse sentido, não podemos deixar de nos manifestar condenado mais uma vez a ditadura pinochetista e nos regozijando com a volta da democracia” encerra o manifesto.