Foliões tradicionais temem pela descaracterização do evento
“Estava a toa na vida, o meu amor me chamou. Pra ver a banda passar, cantando coisas de amor”. Das letras de Chico Buarque para as ruas do Centro de Macapá. Foi assim que um grupo de 15 jovens resolveu criar um bloco de Carnaval em 1965, diante de um cenário político desafiador.
O percurso tradicional nesses anos parte da Praça Veiga Cabral, Candido Mendes, Henrique Galúcio, Feliano Coelho e finalizava na Praça da Bandeira, na avenida Fab. Gato Azul, Loja Clark, Pernambucanas, Irmãos Zagury, São Paulo Saldos, FarmaTrem, Baby Doll. Dezenas ou até centenas de pontos de referências estão na memória afetiva dos amapaenses.
Certamente os tempos são outros. Mas alguns aspectos de tradição precisam ser preservados em um evento como este. “Tenho 45 anos de Banda e digo: estamos perdendo identidade. Culpa minha, sua e de outros mais que habitam esse chão”, declarou o cantor e engenheiro Nivito Guedes. ” Levei minhas filhas para olhar a Banda. Tinha tudo menos marchinhas”, enfatiza a jornalista Dani Sanches.
Dois pontos são os alvos principais das críticas: a ocupação do solo nas esquinas da Leopoldo Machado por terceiros não-autorizados que transformam a via pública em Camarotes com cobrança de ingresso. O outro ponto é o excesso dos “paredões de som” que abusam do volume e tocam ritmos diversos ao da programação tradicional. “Não se escuta nada. É uma salada musical. Melody, sertanejo, funk. Tudo misturado. Vira só um zunido. Um inferno” decalrou a estudante Fernanda Guedes.